22 de abril de 2008

Acordo (II)

«Depois do Ortográfico talvez não fosse má ideia assinar um Acordo Gastronómico com o Brasil.Um acordo que pusesse o azeite de oliveira em concórdia com o azeite de dendê, ou óleo de dendê. Que dá pelo nome latino de Elaeais guineensis Jaquim, e descende de palmeira do Golfo da Guiné. Imaginem as possibilidades semânticas, fonéticas e ortográficas de jaquinzinhos fritos em óleo de Jaquim. O azeite de dendê é a base da comida baiana e os estômagos fracos e que não apreciem batuque e tambores, sol e mar, candomblé e búzios, mulatos e crioulos, devem evitar a Bahia-de-Todos-os-Santos. A todos os outros: Sorria, você está na Bahia. Sorrir é a actividade principal de Salvador. E a única e indispensável introdução à comida baiana e ao azeite de dendê tem de ser feita através do Sorriso da Dadá.
O Sorriso da Dadá é um restaurante, ou melhor, são vários restaurantes, todos da Dadá. A Dadá, que faz uma cozinha baiana à base de dendê (o óleo mais produzido e consumido no mundo), é a chamada lenda viva.(...)
O restaurante mais fino da Dadá é o do Pelourinho, o Pelô, onde já comeram Hillary Clinton e o musical ministro Gil e onde ela serve umas moquecas variadas que incluem a minha favorita, siri catado com pitu. Digam comigo: "Ir na Dadá do Pelô comer uma moqueca de siri mole catado com pitu." Pornográfico. A comida é pornograficamente deliciosa. O restaurante menos fino da Dadá, e o mais verdadeiro, é o da favela, que fica no bairro da Federação.(...)
Não se pode ir a Salvador sem a Dadá e sem o dendê. Na rua, o menino chama um táxi e a favela não tem perigo para cliente dadá. Comida dos deuses, e não só de Iansã. Depois deste jantar, pode esticar o pernil em todos os sentidos, ou na cama, roncando, ou nos botecos, dançando. E sorria. Você está na Bahia. Acordemos pois.»

- Clara Ferreira Alves, aqui.

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