13 de março de 2009

O mundo de Sophia...

Passam os carros e fazem tremer a casa 
A casa enl que estou só. 
As coisas há nluito já forarn vividas: 
Há no ar espaços extintos 
A forma gravada em vazio 
Das vozes e dos gestos que outrora aqui estavam. 
E as minhas mãos não podem prender nada. 

Porém eu olho para a noite 
E preciso de cada folha. 

Rola, gira no ar a tua vida, 
Longe de mim... 
Mesmo para sofrer este tormento de não ser 
Preciso de estar só. 

Antes a solidão de eternas partidas 
De planos e perguntas, 
De combates com o inextinguível 
Peso de mortes e lamentações 
Antes a solidão porque é completa. 

Creio na nudez da minha vida 
Tudo quanto nele acontece é dispensável. 
Só tenho o sentimento suspenso de tudo 
Com a eternidade a boiar sobre as montanhas. 

Jardim, jardim perdido 
Os nossos membros cercando a tua ausência... 
As folhas dizem uma à outra o teu segredo, 
E o meu amor é oculto como o medo. 


- Sophia de Mello Breyner Andresen -

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