29 de julho de 2009

Eu queria captar o impercebido...

Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam. 
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando. 

Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva. 

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava. 

Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava. 

Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio. 

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las. 

Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal. 

- Ana Cristina César -

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