27 de agosto de 2009

O perfil do dia que passou...

Quando anoitece 
contorno no meu rosto 
o perfil do dia que passou 
e tudo o que não sou 
me contradiz. 

Quando anoitece 
atravesso um labirinto 
caiado de paixão, 
pretexto circular 
da minha fé. 

Quando anoitece 
faço emergir do abismo 
um instinto quase secreto 
e fujo da noite, 
em vertiginosa simetria com o vento, 
como se fosse um equívoco 
esperar a madrugada 
com a mesma lentidão 
de um acto íntimo. 

Contra um muro branco 
esta lonjura gémea do vento. 

Uma casa ou um regaço 
alternando a desordem 
de corpos molhados 
numa dicotomia simulada 
quando o prazer 
é o reflexo nítido 
de um coágulo de azul 
queimado sobre madrepérolas. 

São corais que no fundo da água 
não quebram as vagas silvestres. 

Nasci agora 
enquanto uma andorinha 
baloiçava no espelho 
atravessado de pólen. 

Sou, sílaba por sílaba, 
o luto ou a negação 
de desumanos deuses. 

Quando anoitece ... 

- Graça Pires -

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