10 de outubro de 2009

No fim...



...sempre o meu mar.

Sisters


by Marlene Marino

Gosto mesmo muito destas fotografias!

Só se pode ser salvo pelo amor

A luz é tão cega 
Que nunca se entrega 
Só se deixa ver 
Numa razão de ser 
Sem sequer entender 
Os olhos que a vão receber 

E o rasto que fica 
É uma coisa antiga 
Que a gente tem pr´a dar 
E só pode encontrar 
Quando morrer a procurar 

Salvo pelo amor 
Só se pode ser salvo pelo amor 
No sentido perdido ganhador 
Não tem Deus nem Senhor 
Esta dor 
Anda à solta por aí 
Que eu bem a vi 
Ai, se eu pudesse parar 
Se eu vos pudesse contar 

Salvo pelo amor 
Não existe derrota para a dor 
Com o seu capital triturador 
Não tem Deus nem Senhor 
É simplesmente dor 
Que é o que faz questão de ser 
Sem entender 
Que a vida toda surgiu 
De um sol que nunca se viu 

Nem sei se existe

9 de outubro de 2009

Noções...

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

- Cecília Meireles - 

Hoje...


...quero buzinar o Calhambeque
Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!!!            

6 de outubro de 2009

Pan



















Sei que estás bem e feliz e essa certeza deixa-me feliz também. Consigo imaginar o teu sorriso de miúdo traquina, que vê sempre tudo como se fosse a primeira vez, e isso faz-me rir sozinha e enche-me de ternura e tranquilidade. Sei que também torces por mim e que estarás sempre aí, pronto para me ouvires, para me puxares as orelhas quando necessário e, sobretudo, para me lembrares que o amor existe...nós somos a prova viva disso mesmo!

Obrigada por TUDO :)

Dos amigos...

Esses estranhos que nós amamos  
e nos amam  
olhamos para eles e são sempre  
adolescentes, assustados e sós  
sem nenhum sentido prático  
sem grande noção da ameaça ou da renúncia  
que sobre a luz incide  
descuidados e intensos no seu exagero  
de temporalidade pura   

Um dia acordamos tristes da sua tristeza  
pois o fortuito significado dos campos  
explica por outras palavras  
aquilo que tornava os olhos incomparáveis   

Mas a impressão maior é a da alegria  
de uma maneira que nem se consegue  
e por isso ténue, misteriosa:  
talvez seja assim todo o amor  

 - José Tolentino de Mendonça - 

Do equilíbrio da amizade...

Na amizade, muitas vezes, a distância é o lugar mais próximo e de maior proximidade, isto é, onde a presença do outro de tão inteira já não pode ser medida. Sendo um lugar cheio de saudadeesse é também um lugar felizporque aí sem cessar se regressa e avista. É como o movimento de quem caminha num espaço alto e estreito: é preciso separar os braços e desunir as mãospara que possa alcançar-se o equilíbrio.

- Daniel Faria -

5 de outubro de 2009

I just wanna feel...


FREE!!!

Tornámo-nos murmurantes

lembro-me que tínhamos fome havia três dias
encostada ao mármore da mesa-de-cabeceira dormia a fotografia
e o maço de português suave filtro
a escuridão não era só exterior
conhecíamo-nos pelo tacto e pelo olfacto
tornámo-nos murmurantes
e tu refulges ainda no escuro dos quartos que conhecemos
cruzámos olhares cúmplices
falámos muito não me recordo de quê
no calor dos corpos crescia o desejo
caminhámos pela cidade
eu metia as mãos nas algibeiras
onde tacteava tudo o que guardara e possuía
um lenço uma caixa de fósforos um bloco de notas
sentia-me feliz por quase nada possuir
a imagem azulada de tuas mãos flutuava diante de mim
gesticulava para me dizer que 
estávamos vivos
e apaixonados

- Al Berto -

4 de outubro de 2009

Soneto

Se, para possuir o que me é dado, 
Tudo perdi e eu própio andei perdido, 
Se, para ver o que hoje é realizado, 
Cheguei a ser negado e combatido.  

Se, para estar agora apaixonado, 
Foi necessário andar desiludido, 
Alegra-me sentir que fui odiado 
Na certeza imortal de ter vencido!  

Porque, depois de tantas cicatrizes, 
Só se encontra sabor apetecido 
Àquilo que nos fez ser infelizes!  

E assim cheguei à luz de um pensamento  
De que afinal um roseiral florido 
Vive de um triste e oculto movimento  

- António Botto -

Da ternura...