14 de março de 2010

Exercício terapêutico,4

Passeios à beira-mar. Andar de gaivota. Os barcos a remos do lago do Bom Jesus. Frigideiras. Jesuítas. Contar histórias. Cantar para adormecer a Mary Mary. Cantar baixinho ao ouvido da minha irmã. Ir  a concertos. Festivais de Verão. Viajar com o meu irmão e com a I. . Trabalhos manuais. Pintar. As aulas de desenho do Herr L. . Dançar. Os espectáculos e os cafés no TAGV. O Tropical. As Monumentais. Inventar histórias e vidas para pessoas que nem conheço. Olhar para dentro das casas através das janelas. Varandas, terraços e alpendres. Tomar banhos de sol. O tom de pele dos meus primos no Verão. Preparar tostas-mistas e batidos para a malta. Mesas grandes. Refeições demoradas. Boas conversas e discussões inteligentes. Dissertar durante horas sobre um assunto que me apaixona ou revolta. Bibliotecas. Casas com muitos livros. Pessoas inteligentes, sinceras e directas. As sardas da K. Observar a K. com o seu filho D. . Brinquedos de madeira. Caixas de música. Antiguidades. Peças vintage. Arcas e baús. As aulas de ballet e o sorriso do C. Digestivos. O jardim do Parnaso. Os fins-de-semana em casa da R. . Pijama parties. M&M's partilhados. Estações de comboio. Pousadas de Juventude. Comer chocolate. Beber Licor Beirão com o avô C. . As pescarias com o Tia A. e os miúdos. As rodas de conversas na esplanada. O pôr-do-sol. Ficar acordada e ver nascer o sol. Massagens. Banhos de espuma. Duches prolongados. Duches partilhados. Dormir nua. Andar descalça. Ficar horas na rebentação das ondas a olhar o horizonte. Partilhar silêncios cúmplices com pessoas especiais. Receber cartas. Caligrafias. Stickers. Os meus cadernos da primária. O colo protector da Senhora M. . Os elogios e a partilha constante e estimulante de sabedoria do Senhor Q. . O Bazar de Natal do Colégio. As rifas e os bolos de fatias enormes. Os lanches em casa da Frau B. . Biscoitos de queijo. Orquídeas e papoilas. Violetas oferecidas. Jardinar com a avó A. . Amores-perfeitos. Comer fruta directamente das árvores. Vindimar. Vinho doce. Pão com chouriço. Posta à Mirandesa. Ir ver o 2 à Pousada. O silêncio das escarpas do Douro. Andar a pé. Perder-me durante horas em cidades desconhecidas. Descobrir novos recantos na minha cidade. As pontes do Douro. Barcos rabelos. O areal de Porto Santo. Noites de lua cheia. Tomar banhos de mar de madrugada. Beijar muito. Serenatas. Fontes de água cristalina. Jipalhadas. Nadar no rio. Colares de flores. Campos floridos na Primavera. Mel à colherada. Nutella à colherada. Limonada gelada. Noitadas a ver os Óscares. Noites inteiras a conversar sobre tudo e sobre nada. As férias grandes da minha infância.

As mazelas físicas vão-me dado tréguas. A alma tem sido alimentada de pequenas coisas que me fazem levantar todos os dias de manhã e aguentar o dia conseguindo sorrir. Tenho sofrido muitas desilusões ultimamente e dói, uma vez mais, constatar que todas as pessoas têm a capacidade de nos magoar, mesmo aquelas que mais amamos.

1 comentário:

Merenwen disse...

São sobretudo quem gostamos mais que nos magoa mais, mas comes with the package. Espero que a alma se cure tão depressa quanto o corpo. E já agora, adoro estes teus exercícios terapêuticos, deixam-me deliciada a ler e a sorrir por rever, reconhecer, sentir, imaginar as imagens, como fotografias.