15 de abril de 2010

Do fado triste...*



Nos Estados Unidos, Obama tenta que, ao menos, as empresas do sector financeiro cuja falência foi evitada com dinheiros públicos, não retomem alegremente a prática dos prémios pornográficos aos seus gestores, por terem regressado aos lucros... à custa do sacrifício financeiro dos contribuintes - e que ainda está por pagar. Mas até nisso ele tem encontrado resistências de toda a ordem. Dizem que assim os gestores não se sentem "motivados" - e isso é a alma do capitalismo: gestores motivados = lucros para os accionistas = prosperidade económica. O resto da história já sabemos. - Miguel Sousa Tavares, a ler aqui!


Somos um pequeno e desgraçado país. Não somos pequenos e desgraçados porque sempre fomos; afinal, não somos o Haiti, não somos a Bolívia, não somos a Serra Leoa, não somos o Uganda, não somos a Moldávia, não somos a Guiné; não somos assim porque nos fizeram assim, não fomos colonizados, não descendemos de escravos, não fomos deportados, explorados, invadidos, vencidos. A União Soviética não nos pisou com bota cardada e a Alemanha não nos ocupou. Tivemos um ditador e tivemos a revolução sem sangue e a criação da democracia e dos partidos. Tivemos os fundos europeus e a absorção de um milhão de retornados. Tivemos colónias, ouro, escravos e uma história que não nos envergonha. Temos uma longa e estabelecida nacionalidade. Temos a coragem e o génio de ter escapado a Castela. Temos a miscigenação, a lírica e a épica. Temos as descobertas e a geração de Aviz. Temos uma identidade e uma cultura, temos uma língua falada por milhões. Temos 800 km de praia e sol.

Temos muitas razões para sermos felizes. E não somos. Somos um pequeno, desgraçado e deprimido país que se queixa por tudo e por nada, que se detesta e detesta o sucesso alheio, que aniquila a qualidade e promove a incompetência, que deixou que a administração pública fosse tomada de assalto por parasitas partidários, por gestores imorais e por políticos corruptos ou que fecham os olhos e promovem a corrupção como forma de manutenção do poder. Somos um país sem esperança onde nada avança e nada acontece, como escrevia o poeta Ruy Belo.
- Clara Ferreira Alves, a não perder, aqui!


* Pergunto-me quando se cumprirá Portugal, como desejava Pessoa?! Quando aprenderemos a ser proactivos, sem ficarmos à espera que nos façam a papinha toda e a ponham na mesa? Quando daremos valor a quem realmente o tem e se esforça para vencer e fazer melhor? Quando deixaremos de dizer "vou andando", "cá estou", "é sempre a mesma coisa, a vida não muda" e passaremos a acreditar mais em nós, a ver o copo meio cheio, a lutar por um futuro melhor de forma esperançada e optimista?
Os pessimistas não são mais realistas do que os optimistas, apenas não acreditam que é possível melhorar as coisas e alterar o fado das nossas vidas. Não vivo nem vejo o mundo a cor-de-rosa, mas recuso-me a ver tudo numa escala de cinzentos. Acima de tudo, acredito que melhor é possível, sempre!

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