24 de setembro de 2010

Dizem-me...

...que o Verão acabou. Recorro ao telemóvel para ver a data no visor. Efectivamente o Verão acabou. Agora, no calendário, só no ano que vem. Os dias estão bastante mais curtos, isso já havia notado. As noites estão mais frescas. O tempo, esse, continua instável, como tem estado nos últimos tempos. Ora está um calor insuportável, ora faz um frio desagradável e temos que andar de parka e guarda-chuva atrás.
Os meus dias também têm sido assim, instáveis, como o tempo. De emoções fortes, estilo russian-mountain, como diria alguém que conheço. Cheios de altos e baixos, curvas sinuosas e apertadas, subidas vertiginosas e descidas que são autênticas descargas de adrenalina. Em pouco tempo sinto-me como se tivesse vivido uma vida inteira, vidas inteiras, que nem sempre parecem ser a minha, ou aquela que desejaria (era suposto?) viver.
Sinto-me no meio de uma floresta densa, cheia de trilhos escondidos e misteriosos, sem saber muito bem por onde ir. Tento procurar clareiras de luz por entre as sombras, pegadas deixadas por outros caminhantes, galhos partidos indicando a passagem de alguém, na esperança de encontrar alguma indicação, alguma direcção a seguir. Sei o que não quero e isso, dizem-me, pode ser mais importante do que saber o que se quer. Duvido. Sobretudo porque aquilo que quero neste momento não é viável ou possível pelas mais diversas razão e sou constantemente obrigada a fazer, precisamente, o que não quero. 
A vida é cíclica, sei-o bem. Aguardo a chegada de dias melhores, pois acredito que não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe. A felicidade a tempo inteiro não existe, desde sempre que faz apenas meio expediente, uns trabalhos em part-time. É mulher-a-dias, faz umas horas, e normalmente nunca deixa a casa muito bem arrumada. Quando sai bate com a porta e esquece-se do saco do lixo no hall de entrada.
Contudo, quando chega, é sempre sem avisar, como aquela tia que aparece à hora mais inconveniente, porque se lembrou de ir dar um beijinho e tomar um cházinho, precisamente no dia em que a casa está num desalinho e não há sequer vestígios de qualquer coisa que se coma na despensa. Chega sorridente, com uma lembrancinha, muitos beijinhos e abraços e deixa-se ficar até se lembrar que já está atrasada, que era suposto já estar a caminho de outro sítio, saindo apressada, sem muito tempo para despedidas, logo agora que já nos tínhamos acostumado à sua presença e até tínhamos conseguido desenrascar uns biscoitinhos, uma daquelas receitas super rápidas e infalíveis, que sobrinha tão prendada.
Enquanto espero vou tentando não desesperar, não muito, pelo menos. Vou-me agarrando com unhas e dentes às coisas boas, aos pequenos grandes momentos, aos amores de sempre e para sempre. Saboreio cada gargalhada da A.,  a sua voz doce a mandar beijinhos quando falamos ao telefone, tento aproveitar ao máximo o tempo que passo a fazer coisas que me dão prazer, a companhia dos amigos, da família. Agradeço constantemente o privilégio de ter a minha irmã neste momento à minha beira, há muitos dias, (quase) sem interrupções. Guardo cada minutinho das nossas viagens, das nossas conversas, dos nossos lanches, das horas sem fim em que me faz companhia naquele quarto de hospital.
A vida é cíclica, sei-o bem. Aguardo com esperança por dias melhores, sabendo que há coisas que não posso resolver, que há outras que nunca mudarão. Aprendi a muito custo que há alturas em que é preciso deixar ir, abrir mão, deixar andar, até que a vida arranje forma de se resolver a si mesma e fazer com que as coisas voltem a entrar nos eixos. Até que uma borboleta resolva bater as asas do outro lado do mundo e a tempestade comece de novo.

Chegou o Outono, dizem-me. A minha irmã tem medo que eu fique com uma neura igual à de Budapeste e eu já só peço que o São Pedro me conceda alguns dias de sol e céu limpo, de vez em quando, durante os próximos meses. Também não estou a pedir 40º à sombra, right sis?!