7 de junho de 2013

Hoje acordei com umas saudades imensas de Espanha.



Da estrada para Alcañices. Das compras nas Paquitas e no Fidel. Dos passeios pela Calle Stª Clara, em Zamora. Dos churros com chocolate quente. Dos piqueniques na Sanábria. Da Galiza. Dos chiringuitos de praia. Da minha mãe a comer boquerones. Das paellas. Das parrilladas. Das tapas, das tábuas de queijo e enchidos. De ir pinchar de tasquinha em tasquinha. Das gambas al ajilo comidas num restaurante de beira de estrada à entrada de Madrid para fugir à hora de ponta de regresso a casa em final de quinzena de férias. Da Andaluzia. Da Feria de Almeria. Da esplanada do José. Do Mediterrâneo. De Granada e do Alhambra. Do mosto vindo directamente de Léon. Do Monasterio de San Marcos. Das ruas de Barcelona. Da viagem de comboio até San Pol de Mar. De Roquetas. De Mojacar. Do calor insuportável de Sevilha. De ver dançar flamenco. De me arrepiar com uma guitarrada ao vivo. Dos torrões. Dos polvorones. Das natillas e da crema catalana. Da tarte de cuajada da minha tia. Do D. e do R. a dizerem entonces, tenemos que ver e outras espanholices no seu portunhol de crianças bilingues. De gazpacho, de granizados, de tomates bem maduros no Verão. Do céu andaluz. 

Há qualquer coisa em mim que pertence ao país vizinho. Como há uma grande parte de mim espalhada pelos quatro cantos do mundo, uma alma dividida que me faz sempre sentir que vou ao encontro de mim mesma de cada vez que viajo e me faz sentir em casa em muitos lugares fora deste nosso cantinho à beira-mar plantado. Há quem diga que é o chamamento do sangue, de antepassados que criaram raízes mais ou menos profundas noutras paragens, umas mais longínquas que outras. 
Sempre soube que tenho um espírito saltimbanco, uma alma nómada, uma necessidade de  me manter em trânsito, percorrendo vários lugares que de alguma forma me atraem, como um canto de sereia. Preciso dessa errância, sou mais feliz na estrada, entre destinos. No entanto, sei bem onde fica o meu porto de abrigo, a minha rampa de lançamento, a minha pista aberta para todos os voos. 

Sou uma portuguesa-tripeira, cidadã do mundo, e espero um dia poder terminar a minha viagem sob o céu único do meu Reino Maravilhoso. Até lá, há tanto chão à minha espera.